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quinta-feira, 4 de maio de 2017

Bambi - Uma vida na floresta




Oxi! Que mês tumultuado foi esse! 

Espero que no momento em que vocês lerem este post, os Estado Unidos não tenham iniciado a terceira e provavelmente última guerra mundial. 

Bom, se não for este o caso, BEM VINDOS!!! (E se for, acho que vocês tem coisas mais importantes pra fazer do que perderem tempo com as bobagens que eu escrevo, mas que seja...)

Falarei um pouco sobre este livro, por motivos de... Bem, porque a minha irmã insistiu demais mesmo. Foram vários dias de negociações e convencimentos por parte dela. Sério, quem tem irmãos menores deve saber do que eu estou falando.

"FAZ O ARTIGO, FAZ O ARTIGO, FAZ O ARTIGOOOO!!!"

Ela ama a adaptação de Walt Disney e assim que botou os olhos no livro, eu não tive escolha se não lê-lo também e acatar a sugestão dela. Mas falarei o que achei da história mais adiante.




Antes que vocês fechem a página ao se lembrar da chatice que era o filme do Walt Disney, saibam que, como na maioria das adaptações, o original é muito diferente.

Na verdade, é como comparar isto:

com isto:



Na verdade, acho melhor avisar que o artigo de hoje pode não ser a melhor leitura para pessoas deprimidas ou num mal dia. Nesse caso, eu recomendo darem uma olhada na minha série "Piores Capas de Livros" Parte 1, 2 e retornar aqui num dia melhor.

Bem...

Bambi- Uma vida na floresta foi escrito por Siegmund Salzmann, escritor e crítico austríaco que escrevia sob o pseudônimo de Felix Salten. Publicado em 1923, o livro alcançou sucesso imediato, sendo traduzido para mais de vinte idiomas até ser adaptado para desenho animado em 1942, época que, bem, talvez não fosse a melhor para se ir ao cinema.


"Não saia de casa. Está uma loucura lá fora..."

Coincidentemente, o livro foi banido da Alemanha nessa mesma época, vejam só. Além de seu autor ser judeu, aparentemente, a história do livro foi vista como uma alegoria para o tratamento dispensado pelos nazistas aos judeus, o que só aumenta o meu espanto ao ver a que ponto o ser humano consegue ser imune à qualquer autocrítica, mesmo que esteja tão clara quanto nesta situação.

Neste ponto, você que não leu o livro e apenas ouviu falar no filme deve estar se perguntando como uma história cheia de bichinhos fofinhos pode ter a ver com tamanhas atrocidades, ao que eu respondo assustadoramente que sim, por mais que essa não tenha sido a intenção, afinal o livro foi escrito muito antes dessa época.

Okay, Jerica, mas do que se trata?

"Bambi é um jovem cervo que cresce na floresta, observando e aprendendo tudo o que é necessário para sobreviver na companhia de seus amigos."

Essa é a sinopse mais genérica que eu daria, mas eu acho que a verdadeira é: 
"Bambi é um jovem cervo que cresce na floresta, observando e aprendendo tudo o que é necessário para sobreviver na companhia de seus amigos. Bem, pelo menos dos que sobrarem ao final."
 
Sim, Bambi é uma poça de sangue. Sério, a todo momento eu imaginava quais as chances de cada personagem sobreviver até o final.

Justiça seja feita, acho que o velho Walt provavelmente estava certo em amenizar o tom quando adaptou a história, já que ainda assim o filme não é um dos mais "celebrados". É sim, muito lembrado por cenas como essa:



E essa:



Sério, melhor não clicar no play se você estiver num dia ruim.

Apesar de que, se vocês repararem bem, Bambi é mais a regra do que a exceção em se tratando de Disney e seus filmes adaptados de livros com animais fofinhos. Não é, Toddy?

"GRRRR..."
Okay...
Na verdade, a minha teoria é de que se nos filmes os animais fofinhos são sinônimo de diversão e alegria, nos livros é justamente o contrário. 

Não acredita em mim? Olhe só a capa de Watership Down:

  
 Linda, não é? E quando você lê:




Brrr...

É quase como um gênero próprio. Não sei ao certo quando começou, mas sei que sendo uma nerd em se tratando de filmes da Disney e desenhos em geral, devo ter assistido quase todas as adaptações dessas histórias. Mas ler mesmo, acho que Bambi é o primeiro.


Mas vamos com essa bodega!



Numa clareira muito escondida na floresta, nasce Bambi, um filhote de cervo-vermelho que, diferente do filme onde é tratado e referido como sendo um príncipe, aqui ele é apenas um animal como outro qualquer. Não sei, talvez a revolução tenha vindo mais cedo e derrubado a monarquia do reino animal, passando o título dos cervos para os leões, vai saber.

De plateia para o seu nascimento, temos apenas uma gralha azul que não sabe calar o bico, tagarelando sobre como é difícil ser mãe. Sério, eu peguei uma fração de tudo que tinha num parágrafo de MEIA PÁGINA: 

"Imagine só como é estafante ter que sair para buscar comida para os filhotes e, ao mesmo tempo, cuidar para que nada de mal aconteça. Quando não estamos por perto, ficam completamente desamparados. A senhora não acha?"

Ao que a progenitora de Bambi responde com um: "Desculpe, não estava prestando atenção."


"TURN DOWN FOR WHAT!!!"
 
Sério, se eu for mãe um dia, espero me lembrar dessa frase pra quando tiver que lidar com aquelas pessoas insuportáveis que adoram dar conselhos que ninguém pediu.
Os dias passam e Bambi começa a explorar a floresta com sua mãe, observando e perguntando sobre TUDO, como qualquer criança: 

"Bambi perguntava. Ele adorava fazer perguntas à mãe. [...] Curioso, também adorava esperar pela resposta. Fosse ela qual fosse, ele sempre ficava satisfeito. Às vezes não entendia bem, mas não importava, porque podia voltar a perguntar quando quisesse.[...] Da mesma forma, ele percebia que, em certas ocasiões, a mãe não lhe dava respostas completas e não dizia a ele tudo o que sabia. E isso então era bom demais. Porque aí ainda sobrava uma curiosidade especial, uma sensação misteriosa e animadora, mistura de medo e de alegria tão grande que ele acabava se calando."

Não sei vocês, mas às vezes, eu sinto saudades dessa ingenuidade e empolgação que só quando somos crianças é que experimentamos de verdade. Fico imaginando se em tempos de google as crianças ainda conservam um pouco desse espírito.

Acho que uma parte que mostra bem a diferença entre o filme e o livro é quando Bambi e sua mãe encontram outros animais. No filme, Bambi faz amizade com o coelhinho Tambor desde seu nascimento, além de encontrar um verdadeiro festival de fofuras por onde passa.

Awww...

Já no livro, ele encontra uma doninha bem na hora em que esta ataca um ratinho para se alimentar.

"É O CICLO SEM FIIIM...."

A seguir, eles encontram dois gaviões disputando um ninho saqueado no alto dos galhos.
Tal violência leva Bambi a se perguntar se eles também precisarão morder a garganta uns dos outros pra sobreviver, ao que sua mãe responde da forma mais reconfortante possível:

'"Bambi então perguntou: "Nós também vamos brigar por causa de comida?"

"Não." [...] "Há comida suficiente para todos." Explicou.

"Bambi ainda queria saber mais uma coisa: "Mãe...?"
"Sim?"

"A gente também vai ficar bravo um com o outro algum dia?"

"Não meu filho, isso nunca vai acontecer." '''




E eu quase chorei lendo esse diálogo. 


Como nem tudo na vida são flores, Bambi e sua mãe logo chegam ao campo aberto, onde ela subitamente muda seu comportamento, parando e mandando-o ficar quieto e esperar por ela. 

Por mais que eu acredite que o autor criou a tensão necessária para o momento, foi difícil não lembrar dessa cena no filme e sentir que falta algo. Eu sei que é injusto da minha parte comparar um com o outro, já que são meios diferentes, mas eu sinto que aqui o filme leva vantagem por poder contar com uma trilha sonora. Leia o trecho e depois dê o play e ouça a partir de 0:57.

"Ela então saiu para o campo. Bambi, que não tirava os olhos dela, viu como ela avançava cautelosa. E ele ali, parado, observava com ansiedade, um pouco amedrontado e bastante curioso. Ele viu como a mãe olhava para todas as direções, então a viu se assustando e se assustou também, já a postos para voltar para dentro da mata.Mas logo ela recobrou a tranquilidade, finalmente virou a cabeça e chamou: "Venha!"




 Malditos passarinhos!

De qualquer forma, apesar de muita gente por aí ter trauma com a cena da morte da mãe do Bambi, eu confesso que nunca chorei por causa dessa cena em particular. Agora, eu me cagava de medo era dessa aí acima, por todo o clima de apreensão que a trilha sonora transmite. Essa e todas as outras em que o vilão aparecia. Bom, acho que até essa altura, vocês já devem imaginar quem seria ele...

 
Uma dica: Não é um membro do Greenpeace



Vejam bem, o velho sacana do Walt Disney sabia bem como aterrorizar crianças, porque ele fez questão de que ninguém visse o homem na floresta, sendo a sua presença anunciada apenas com música. Ou seja, sempre que ouvíamos as mesmas três notas malignas repetidas, sabíamos que o perigo se aproximava. Anos depois, Tubarão, de Steven Spielberg, usaria esse mesmo artifício. Quem diria, não?

Após passarem a tarde e a noite saltitando e passeando pela campina, os dois voltam a se recolher para dormir durante o dia. Mas como uma criança chocolatante dos nossos tempos, Bambi não quer dormir e volta a atormentar sua mãe perguntando porque eles não podem continuar no campo aberto. Ela responde com evasivas, até que, perante sua insistência, acaba dizendo:

"Precisamos viver desse jeito" continuou a mãe, "Todos nós. Mesmo se amamos a claridade do dia... e nós a amamos principalmente quando crianças... é assim que precisamos viver, temos que ficar quietos durante o dia." E a seguir, ela começa a falar sobre como os arbustos os protegem de serem vistos e as folhagens no chão avisam quando tem alguém passando.

"Quando a mãe se calou, ele ficou pensando como as folhas velhas eram bondosas por cuidarem de todos com afinco. [...] Ficou pensando o que poderia ser esse tal perigo de que a mãe sempre falava."


Leva algum tempo até que o caçador faça sua entrada na história, então até lá o que temos são vários encontros de Bambi com outros animais, como seus "primos", outros dois filhotes de cervo chamados Falina e Gobo. Assim como ele, nenhum dos dois entende bem o que está acontecendo quando avistam um grupo de cervos machos galopando até o lugar. Impressionados, perguntam às mães, que respondem se tratarem dos pais deles.

"Bambi prosseguiu: "Por que eles não falaram com a gente?"
"Eles não falam com a gente... Só nos dirigem a palavra em determinada época... Temos de esperar... quando quiserem falar conosco, eles falarão."

"Provavelmente usando uma música do Lionel Richie de fundo..."

Não tarda para isso acontecer, pois algum tempo depois, Bambi nota que sua mãe, antes tão zelosa, agora o rechaça dizendo que ele pode ficar sozinho. Vocês sabem, ela sente falta de "companhia adulta", se é que me entendem. Logo ela o deixa sozinho enquanto dorme, fazendo o filhote sair aflito procurando por ela. 

Sinceramente, a senhora caiu no meu quesito, dona mãe do Bambi.

Eis que, voltando pela trilha deles, Bambi tem seu primeiro encontro com o perigo:

"Na beira do descampado, perto de uma castanheira, ele avistou uma criatura estranha. Bambi nunca tinha visto nada parecido. Ao mesmo tempo, o ar trazia um cheiro que ele nunca tinha sentido. Um cheiro estranho, pesado, forte e enlouquecedor. Bambi encarou aquele ser. Ele se mantinha muito ereto, muito magro, e tinha a cara muito pálida, completamente sem pelos ao redor do nariz e dos olhos. Terrivelmente nu. Aquele rosto lhe inspirava um medo enorme. [...] Mesmo assim Bambi ficou paralisado, sem conseguir sair do lugar.

O ser ficou imóvel por muito tempo. Até que esticou uma pata, uma que ficava bem no alto, perto do rosto. Bambi nem percebeu do que se tratava, na verdade. Mas quando ele viu essa pata assustadora se esticando no ar, se apavorou com o movimento e fugiu dali na velocidade do vento."

Já mencionei que a associação de caçadores dos Estados Unidos odiou esse filme? Aparentemente, eles nunca reclamaram do livro. Porque dããã, que caçador lê livros, afinal?
 
 
"Ok, eu retiro o que eu disse."


De qualquer forma, Bambi não encontra sua mãe desnaturada de jeito nenhum e continua chamando por ela de dentro da mata, até que seus bramidos atraem a atenção do Velho Cervo que passava por ali. Estou escrevendo assim porque esse é literalmente o nome dele, visto que todos os animais o tratam assim o livro inteiro.




"O velho cervo parecia ser mais forte que os outros, mais alto, mais majestoso. Sua pelagem tinha um tom vermelho mais escuro, mas seu rosto era cinza prata e em sua cabeça carregava uma imponente coroa manchada de pérolas negras sobre as orelhas nervosas.

"Por que está chamando?" Perguntou o velho com severidade. Bambi estremeceu e não ousou responder. "Sua mãe agora está sem tempo para você!" prosseguiu o cervo. Bambi estava totalmente rendido por essa voz autoritária, mas ao mesmo tempo, não deixava de admirá-la. "Não sabe ficar sozinho? Que vergonha!" "


"Que vergonha você não ficar aí sozinho nas mãos dos caçadores enquanto eu cruzo com a sua mãe!"


Apesar do modo extremamente cuzão com que o velho cervo se dirige a ele, Bambi passa a admirá-lo, rompendo o vínculo simbiótico que mantinha com a sua mãe e saindo do complexo de Édipo que o levaria a terminar, no pior dos casos, como um Norman Bates e no melhor como o Clodovil.  Em todo caso, Bambi agora tem um referencial masculino para seu crescimento como um veado-macho-comedor-de-corças-e-eleitor-do-Bolsonaro.
Parabéns!!! (irônico, antes que venham encher minha caixa de comentários, pessoas que não sabem ler sarcasmo)

... E sim, eu consegui linkar psicanálise com Bambi. Enquanto metade de vocês ficou boiando, a outra metade ou se ofendeu ou nem prestou atenção
Sinto muito, não vai acontecer de novo.

De qualquer forma, a mãe de Bambi logo retorna cansada, e eles observam uma manada de alces passando. Bambi se assusta com o barulho das passadas deles, mas sua mãe o conforta dizendo que são seus "parentes", ao que uma corujinha tagarela dá um insight sobre o assunto:

"Parentes não servem para nada. Se são maiores que nós não prestam e se são menores prestam menos ainda. Quando são maiores, não gostam de nós porque são orgulhosos demais e se são menores, não gostam de nós porque aí os orgulhosos somos nós. Não eu nem quero saber dessa história!"

"Uma coruja, vista aqui se escondendo dos próprios parentes."


Depois, Bambi continua interagindo com outros animais e cada vez mais descobrindo quem é "Ele", o perigo de quem todos falam.



Não esse "Ele". Vocês sabem, o caçador.

Acontece que independente de ser um indivíduo ou um grupo, no livro os animais se referem a todos os seres humanos como sendo "Ele", assim mesmo, com "E" maiúsculo, como se se tratasse de uma divindade. Dadas as suas ações, eu diria que essa é uma boa representação do poder que o homem tem no imaginário dos habitantes da floresta.

A propósito, já falei que Bambi é um Bildungsroman? (sim, eu tive que olhar na aba pra escrever isso direito.) É uma palavra em alemão que significa "romance de formação". É a típica história coming of age, que são histórias de crescimento/desenvolvimento de um personagem ou pessoa até sua maturidade. Também se relaciona com o monomito, que seria a jornada do herói, um conceito de jornada cíclica presente em diversas histórias através dos tempos e culturas, mas bastante parecidas entre si, daí o nome.

Desculpa, só achei interessante saber que, no fim das contas, Bambi e  o Rei Leão estão praticamente na mesma categoria de história. Na verdade, sem Bambi você não teria seu amado épico de Hamlet com leões, que nos estágios iniciais do desenvolvimento do filme este era referido como "Bambi na África". 

"Mas o Rei Leão não foi inspirado em Bambi e sim no Kimba, sua feminista-esquerdista defensora-de-ditador-de-estimação! Tô certo!"

Ao que eu respondo que não, seu filhote de Naruto. Sabe qual era um dos filmes preferidos de Osamu Tezuka? Exatamente. De acordo com o próprio mangaká, ele viu o filme cerca de OITENTA VEZES. Ah, e ele fazia fanarts também:






Eu encerro meu caso.

Continuando, Bambi agora se concentra em se aproximar mais do velho cervo em busca de conhecimento e aprovação dele, quando de repente, presencia o homem em ação de novo. Dessa vez, o caçador consegue acertar um dos cervos mais jovens, chamados de príncipes por alguma razão:

"Bambi parou aterrorizado, sem entender o significado daquilo. Lá estava o príncipe deitado com uma grande ferida no ombro, sangrando muito, morto."

Bambi consegue fugir com sua mãe e os outros cervos e animais, que se escondem na mata. Só então o pequeno cervo passa a entender do que "Ele" é capaz, impressão que fica mais forte ao ouvir os comentários fatalistas dos outros bichos:

" "[...] não pense que o príncipe teve que morrer por ter sido tolo ou orgulhoso, e sim porque ninguém consegue escapar Dele."

[...] O corvo prosseguiu: "Ele já matou muitos da minha família. Ele mata quando quer. Ninguém escapa." "

Como se pode concluir por esses trechos, o homem, ou melhor, "Ele", é para os animais um cavalheiro do apocalipse, trazendo o horror e a desgraça por onde passa. Apesar disso, os bichos se habituaram com o fato de que precisam estar sempre atentos para escapar Dele, como o Velho Cervo o aconselha:

"Ouvir, farejar e olhar por conta própria. Você tem que aprender a averiguar por si só. [...] Passe bem."

 [...] Um sentimento de orgulho invadiu Bambi e lhe inspirou pensamentos profundos. Sim, a vida era mesmo difícil e cheia de perigos, mas viesse o que viesse, ele aprenderia a suportar tudo."

Durante a leitura, voltei várias vezes a esse trecho, pela sensação de esperança que ele evoca. Num livro em que praticamente se pode torcer sangue das páginas, o poder que essas palavras ganham é bem maior do que seria numa obra mais amena.

E falando em drama, o capítulo seguinte começa com um diálogo entre as folhas de um carvalho durante a chegada do inverno.


É.

E é um diálogo que me arrepiou, principalmente aplicado o contexto em que o livro foi escrito e depois banido. Sinceramente, se vocês tiverem curiosidade (e estômago) pra ler, leiam. Foi a forma mais incrível que eu já vi alguém escrever sobre angústia existencial. Sim, o homem escreveu um capítulo inteiro com folhas conversando sobre estarem secando e morrendo. 

Por que, diabos, eu ainda acho que posso escrever? Sinceramente, é melhor eu desistir enquanto há tempo...

Com a chegada do inverno, Bambi conhece a fome e a neve, e com elas percebe o quanto os seres da floresta estão dispostos aos mais mesquinhos métodos para saciar o apetite:

"Na floresta tudo era silêncio, mas coisas horríveis começaram a acontecer. Um dia, os corvos atacaram o jovem filhote do coelho, que já estava doente, e o mataram de forma cruel. Seus lamentos desesperados ecoaram pela mata durante muito tempo. [...]"


Putz...

Aqui, uma foto de um bichinho fofo para amenizar o dano aos vossos corações!





Argh, não está funcionando! Mais fotos fofas!






"Outra vez, o esquilo apareceu com uma ferida na garganta, fruto de uma mordida que a marta havia lhe dado. O esquilo havia escapado por milagre. Não conseguia falar de dor, mas corria por todos os galhos, todos podiam vê-lo. Corria como louco.[...] Correu assim durante uma hora, até que escorregou, bateu atordoado nos galhos e caiu na neve, agonizando. Imediatamente, chegaram algumas gralhas para se deleitar com seu banquete."

AAAAARGH!!! ALERTA GERAL, ALERTA GERAL, ESTE ARTIGO CONTÊM NÍVEIS ALARMANTES DE ANGÚSTIA E SOFRIMENTO! ABANDONEM-NO, ANTES QUE A BALEIA AZUL COMA VOCÊS!!!


Me sinto vazia, está escuro e vazio. Eu quero a minha mãe...
(se enrola numa bola e deita no chão)

...


...



...



...


Ok, podemos continuar, eu acho. (assoa o nariz na blusa da irmã).
Bem... Vou tentar resumir para acabarmos o quanto antes.

"Ninguém mais se sentia seguro, porque tudo acontecia à luz do dia.[...] Não existia mais piedade, tranquilidade, nem respeito."

Bambi, Faline e Gobo estão no campo na companhia das corças, conversando sobre como a vida era mais fácil antes do inverno. Novamente, esse é um trecho que transparece os sentimentos que qualquer pessoa passando por maus bocados conhece. Fica impossível não associar as falas deles com as de vítimas reais de perseguições.

O grupo de cervos está preocupado com a aparente doença de Gobo, o filhote mais fraco, quando ouvem os bichos menores fugindo e percebem que o homem adentrou a floresta novamente, dessa vez trazendo um verdadeiro apocalipse sobre a mata:

"Neste instante eles ouviram a voz Dele. Vinte, trinta vozes gritavam. Este grito atordoava mais do que a tempestade e a tormenta juntas. [...] Ouviam-se o rumorejar distante e os estalidos da mata retalhada. Crepitações e guinchos de galhos quebrados. Ele estava vindo! Ele estava entrando na mata."





"Ninguém conseguia manter a calma. Todos saíram em polvorosa. Cinco, seis faisões levantaram voo ao mesmo tempo com estalos barulhentos. "Não levantem voo" gritaram os demais, e correram. O trovão ribombou, cinco, seis vezes, e alguns do que voavam voltaram em queda livre para a terra."

Durante a confusão, Gobo fica para trás enquanto sua irmã e Bambi correm para escapar dos tiros junto com as outras corças. As mães dos dois se perdem deles, no entanto, e eles vagam por um dia inteiro, lamentando o provável destino de Gobo.

Depois eles reencontram a mãe de Faline, e aliviados, correm até ela. 

"" Ena chorava e estava totalmente exausta: "Gobo se foi" Lamentou. "Eu o procurei... fui até o cantinho, lá na neve onde ele caiu... estava vazio... ele se foi... meu pobre pequeno Gobo...
Dona Nettla resmungou: "Devia ter procurado o rastro dele. Teria sido mais inteligente que chorar."
"Não há rastro dele" disse Ena. "Mas... Dele! Ele deixou muitos rastros... Ele esteve do lado de Gobo..." ""

Então, Bambi se volta para ela e faz a pergunta que ele mesmo já pode responder ao ver a corça voltar sozinha:

 "" "Tia Ena... você viu a minha mãe?"

"Não" ela respondeu baixinho.

Bambi nunca mais viu sua mãe.""






Tarará-lili, Ti-ti-ri-ri--ti-ti-ri-ri-lalalá...


Sério, no filme, essa é a cena que aparece logo depois desse acontecimento. É. Porque se tem uma coisa que combina com a morte de um progenitor é um número musical, segundo a Disney. Olhem:



"Pai, tem que levantar!"


Hakuna Matata, que significa "não ligar pra pais mortos!"


Por favor, fãs xiitas da Disney, não venham atrás de mim com forcados. Eu amo esses filmes, só não concordo com algumas escolhas de direção, só isso...

(afasta foice do rosto)

Continuando...

O tempo passa, a primavera chega e Bambi cresce, com uma fúria assassina e disposto a perseguir o caçador e vingar sua mãe...

Tá, na verdade não. Ele apenas se torna um jovem veado com indícios de Estresse Pós Traumático. Você sabe, como o Rambo.

Rambo... Bambi...

Rambi!!!


"Você matou a minha mãe, agora EU MATO VOCÊ!!!"


Como na vida real em que sofrer de um transtorno mental não te dá força e habilidades cinematográficas para massacrar seus inimigos, Bambi vive atormentado por sentimentos de tristeza, revolta e saudade de sua mãe e de seu amigo, Gobo. Além disso, ele também se descobre muito atraído por Falina e pelas outras fêmeas, mas suas aproximações são decepcionantes. No entanto, Bambi logo prova seu "valor" lutando com um rival, e eles ficam juntos.

Para logo depois, Bambi decidir que quer ficar mais tempo absorvendo a sabedoria do velho cervo, largando Falina de lado. 

Sério, Bambi, assim você não ajuda a pararem de fazer piadinhas a seu respeito!


Depois disso, tudo parece calmo por um tempo, até que Gobo ressurge. E ele está crescido como Bambi, sem nenhum ferimento! Felizes e surpresos, os animais o recebem mais que ansiosos por ouvirem como ele conseguiu escapar da morte certa.

"Naquele dia eles (os cachorros) quase me dilaceraram... mas aí, Ele veio! [...] chamou os cachorros, que ficaram quietos na mesma hora. Depois Ele voltou a chamá-los e eles se deitaram na frente Dele. Então Ele me levantou do chão. Eu berrava, mas Ele fez carinho em mim, me segurando junto ao peito. Não me fez mal nenhum."
 
E Gobo prossegue contando como o homem o protegeu da chuva e do frio, o alimentou e ele e os filhos brincaram com ele. Todos os animais ficam impressionados e atordoados com esse relato sobre o ser que eles julgam ser seu maior algoz. 

"Por que eu ia morrer de medo? Vocês acham mesmo que Ele é mau? Quando Ele gosta de alguém e quando o servem, Ele é bom. Bom demais! Ninguém no mundo consegue ser tão bom quanto Ele..."

Não sei, mas esse trecho me faz pensar em todas as barbaridades já perpetradas por figuras que eram tidas como "bondosas". 

O velho cervo aparece e fica claro que ele é o único ali que percebe o quanto Gobo sofreu uma "lavagem cerebral". Ele o questiona a respeito do pedaço de corda envolta do pescoço do jovem cervo:

"Gobo ficou sem graça: "Isso...? É parte da corda que eu usava... é Dele...e... é...é uma enorme honra usar a corda Dele... é...
Todos permaneceram em silêncio. O velho cervo fitou Gobo longamente, com um olhar penetrante e triste. 

"Coitado" disse com voz baixa, virou as costas e desapareceu no mato."

Sem conseguir entender o que o velho quis dizer com aquilo, Bambi observa o amigo agir de forma imprudente e imbecil, deixando de dormir de dia para vagar pela floresta, ao contrário de todos, e se vangloriando de "saber mais sobre o mundo do que qualquer um ali" por ter sido acolhido por "Ele". 

Não demora muito, um homem aparece na floresta novamente. Ao avistar o caçador, Gobo corre para cumprimentá-lo, não ouvindo os pedidos desesperados dos amigos, nem dos outros bichos.O resultado é previsível:



Pobre Gobo. Não sei, senti raiva dele por ser tão imbecil, mas acho que, no fundo, não era propriamente culpa dele. Assim como ele, muitas pessoas são tão frágeis que facilmente entram em negação e não admitem a existência do perigo até que seja tarde demais para escapar. 

Após mais esse episódio trágico, Bambi vaga às margens de um lago, deprimido. Ele se isola de tudo e de todos, até mesmo de Falina, a quem ele confessa "não saber se a ama mais". Angustiado e sem esperanças, ele acompanha o velho cervo. Enquanto conversam, os dois descobrem um coelhinho preso num armadilha e após soltá-lo, o velho conta que aquilo é obra Dele.

""Agora Ele não está na floresta." 

"Não está, mas está!" concluiu Bambi, balançando a cabeça.

"E Ele não é todo-poderoso?"

"Do mesmo jeito que é bondoso." resmungou o velho.

"Mas com Gobo Ele foi bom..." murmurou.

"Você acredita mesmo nisso?" Perguntou com tristeza.""




 


Enquanto andava com o Velho cervo, Bambi acaba ferido por um caçador e se isola num esconderijo na floresta. Com a ajuda dele, o jovem cervo consegue sarar do tiro e voltar a andar, com o pensamento ainda mais melancólico:


"Quando ainda era pequeno, o velho cervo lhe ensinara que é preciso ficar sozinho. E o velho cervo também lhe ensinara muitas outras coisas, e lhe revelara muitos outros segredos. Mas de todas as coisas que aprendera, a mais importante fora que é preciso ficar sozinho."



Como última lição, o velho cervo leva Bambi para ver algo que ele jamais imaginaria sobre o homem:

"O pescoço nu estava perfurado e exibia uma ferida aberta que parecia uma pequena boca vermelha de onde o sangue ainda minava lentamente. Nos cabelos e no nariz o sangue estava coagulado e Ele estava deitado numa poça grande de sangue na neve, que ainda derretia com o calor do seu corpo."


"Bambi" continuou o velho cervo "Está vendo que Ele agora está morto, como qualquer um de nós? Então, está vendo que Ele não é o todo-poderoso como dizem por aí? Que tudo que é vivo não vem Dele? Ele também não está acima de nós! Ele está do nosso lado e é como um de nós [...] Pode ser morto como você e aí jaz impotente caído no chão como qualquer outro, como você vê agora na sua frente."

"Você está entendendo, Bambi?"
Bambi sussurrou uma resposta: "Acho que sim..."
"Então fale!"
Bambi sentiu um calor e disse com a voz trêmula: "Há outro acima de todos nós... Acima de nós e Dele."

O velho cervo se dá por satisfeito: "Agora posso partir. [...] Não diga nada."[...] Nessa hora que se aproxima, precisamos ficar sozinhos.Fique bem, meu filho... Eu amei você demais."

 E se despede dele para procurar abrigo e morrer.


As estações mudam novamente e no verão, Bambi encontra dois filhotes de cervo chamando pela mãe. E assim como o velho cervo um dia lhe disse, ele olha bem nos olhos dos dois e fala: "A mãe de vocês está sem pra vocês agora. Não sabe ficar sozinho?" E segue andando, desaparecendo pela floresta.




Minhas Impressões 

Bambi não é um livro fácil, pelo menos quanto ao seu tema. Eu mesma admito que talvez não o tenha entendido totalmente, mas consigo ver porque o livro acabou banido naquela época. "Ele" é a personificação do mal que existe no mundo, o mal que persegue, amedronta e até mesmo conquista seguidores e admiração de alguns. E isso é assustador na medida em que o livro te coloca cara a cara com esse aspecto menos admirável do ser humano. Essa não é só uma história cervos, mas também sobre o lobo que habita cada um de nós, e toma forma inimagináveis de tempos em tempos. 

Enquanto o autor parece apontar que a única solução para esse problema é se manter sozinho, poupando a si mesmo do sofrimento que estar com os outros provoca, acredito que não seja essa a mensagem do livro. Na verdade, é a orientação da mãe de Bambi e depois do velho cervo que garante a sobrevivência do protagonista pela maior parte do livro. Até mesmo os outros animais e amigos tem sua parcela de cooperação, a qual ele retribui depois, ajudando outros animais a escaparem de armadilhas. Desse modo, por mais triste que a vida possa ser, receber ajuda e ajudar os outros ainda é a melhor alternativa.




É isso. Fiquem a vontade para comentar e sugerir livros ou contos para resenhas, mas aviso que vou ficar o próximo mês sem atualizar o blog, por motivos de "Ainda não comecei meu TCC e é bom que esteja pronto até Agosto". Espero voltar logo.



E na próxima resenha:

"Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?"
"Não tenho a menor ideia..."







  




Resenha de mangá: O marido do meu irmão

  Eu vinha escrevendo essa resenha desde agosto, mas só agora em outubro que eu consegui atualizar o blog... Pra vocês verem. Não sei se foi...