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terça-feira, 5 de março de 2019

Resenha: Felidae







Ah, as coisas que eu faço pela minha irmã...

Bem, como alguns de vocês imaginam, esse é outro daqueles pedidos da minha querida sister. Da última vez, ela me pediu para resenhar isto, e bem, parece que ela gosta de me ver sofrer ler livros cheios de mortes horrendas de bichinhos fofos, então terei de repetir a dose. Bom, vamos lá...

Felidae, (lê-se Felidê... pois é) é uma novela policial sobre gatos. Não, eu não digitei errado, nem troquei "gângsters" por "gatos" (apesar de que, seria desejável). É um mistério sobre um gato que investiga uma série de assassinatos de outros gatos.







Antes que você, leitor, resolva que seu tempo é muito melhor gasto lendo sobre o surubão de Noronha (quem sou eu pra discordar), por favor, considere ficar, ao menos para ver o trágico quadro da minha aflição perante esse livro. Você consegue perceber o tamanho do problema quando a pessoa que tem um gato no logotipo do próprio blog diz que um livro com gatos e assassinatos misteriosos não é tão bom assim. Eu sou uma grande "cat person", chegando ao ponto de imitar os miados dos gatos pra "falar com eles". E eu adoro histórias intrincadas de mistério, do tipo que você lê com um bloco de anotações do lado pra coletar todas as pistas junto com o protagonista. A ideia de que eu não me divertiria tanto com algo assim soa absurda, mas... Me desculpem, eu não gostei. E me desculpem os alemães, mas como pode esse ter sido um best-seller? E adaptado para um filme de animação em 1994, o mais custoso da época. E eu só me pergunto: por quê?

Bem, vou deixar que vocês mesmos tirem suas conclusões.

E sim, haverá spoilers. Muitos spoilers... e gatos, muitos gatos (principalmente mortos) então estejam preparados e tirem a Luísa Mel da frente do computador! 







Nossa história começa em alguma cidade alemã e nosso protagonista é Francis, um gato doméstico que se muda com Gustav, seu dono escritor de romances femininos de gosto duvidoso. Bom, se mudar não é bem a palavra certa, já que como bicho de estimação, Francis não tinha muita escolha:


"Quando o vi pela primeira vez da janela lateral traseira do Citroen CX-2000, pensei a princípio que Gustav tivesse feito uma piada de mau gosto comigo, o que não teria me surpreendido, levando em conta o seu humor mais que subdesenvolvido. Na verdade já tinha ouvido ele falar meses antes algo sobre "prédio antigo", "reforma" e "investir tempo", mas já que Gustav entende tanto de reforma de um apartamento quanto uma girafa entende de especulação na bolsa, achei que se tratasse apenas de pregar uma plaquinha com o nome do morador na porta."

Por esse parágrafo, acho que já deu pra vocês entenderem o estilo narrativo aqui: o gato Francis, além de sarcástico, é inteligente o suficiente não só para descrever a marca do carro do dono, como também saber o conceito de especulação na bolsa, e dizer que uma girafa não entende o suficiente do assunto, o que é ao meu ver, um grande preconceito com as girafas...

I'll pass it this time, sir!
 

Ai, ai... Ok, ele é um gato que por acaso usa elementos muuuuito humanos na linguagem dele.O problema disso é que acaba sendo altamente distrativo numa história com animais. Pode parecer que eu estou exagerando, mas pegue como exemplo o próprio Bambi, que é contado todo do ponto de vista dos animais: Não existem referências muito aprofundadas sobre a vivência humana em geral. Os animais da floresta não passam os dias falando em como os homens chegaram com semi automáticas e lança-chamas e trucidaram todos eles: eles sequer falam a palavra "homem"! Em Bambi, o ser-humano é "Ele", um ser diabólico que aparece de repente com um bastão que solta fogo da ponta e os mata para levar seus cadáveres embora sem explicação alguma. Isso é usar a narração de forma a criar um contexto minimamente realista e aproveitar todo o espectro possível de uma experiência fora da vivência humana, mas similar em vários aspectos.

Antes de decidirem se eu estou apenas cagando-regra ou se eu tenho razão, voltemos à história: Francis se frustra com os esforços infrutíferos de seu dono de tornar o apartamento caindo aos pedaços em um lar e decide dar um rolê pela vizinhança. Eis que, ele se depara com um corpo:




Enquanto se horroriza com o cadáver, um gato bastante deformado aparece por ali e sugere que o crime tenha sido causado por "Abridores de Lata safados", que, eu preciso concordar, deve ser o modo carinhoso como gatos realmente se referem aos homens.





Nessa breve conversa, o gato que algumas páginas adiante se apresenta como Barba Azul, conta a Francis que os assassinatos já ocorrem há algum tempo e que aquela é a quarta vítima na verdade. Francis porém observa que seria muito improvável que o algoz fosse um ser abridor de lata ser humano porque "Abridores de lata têm a sua disposição facas, tesouras, lâminas de barbear, chaves inglesas e até mesmo abridores de lata, de qualquer maneira vários belos instrumentos para assassinatos se quiserem eliminar alguém. Mas a nuca desse aqui foi totalmente dilacerada, desfiada, para falar a verdade foi mesmo rasgada em pedaços."

Ele também se atenta para a enorme quantidade de machucados que o colega manco apresenta, imaginando que tipo de acidente poderia tê-las causado. E a propósito, Barba Azul é um Maine Coon, que é conhecido por ser um gato gigante de enorme. Tão lindo...





Depois dessa rápida conversa, Francis volta pra casa para encontrar seu dono botando o apartamento abaixo com a ajuda do amigo dele, Archie. Não sei o motivo, mas o autor dedica três ou quatro páginas apenas para descrever esse personagem que como podem adivinhar, não faz porra nenhuma para o avanço da história:

"Foi um dos primeiros agricultores alternativos, fazendo seu próprio pão e medindo ele mesmo a temperatura do corpo de sua namorada com o objetivo de adotar métodos naturais de contracepção. Nós ainda estávamos aprendendo a soletra a palavra "punk" e Archie já nos surpreendia com seu corte de cabelo iroquês enquanto consumia quantidades enormes de latas de cerveja e tentava arrotar frases inteiras."


Sim, Archie era hispter antes mesmo que o termo sequer existisse; Bom pra ele.

Sendo o dono cuidadoso que é, Gustav coloca uma música no disco para ajudar seu gato a ignorar a ruidosa reforma e dormir bem. A música escolhida é "A sinfonia da ressurreição", de Mahler, que como vocês podem notar, é a melodia perfeita para relaxar: 





Ou talvez não, visto que Francis tem um pesadelo tenebroso com um homem sem face que o prende numa corrente e o arremessa pelas paredes enquanto o sufoca:

"Subitamente apareceu como que do nada no meio desse estranho cenário um homem usando um longo avental branco. No entanto, o que me apavorou enormemente não foi o fato dele ter surgido de forma inesperada . Quando virou a cabeça em minha direção, pude ver que ele não tinha rosto. Tinha em mãos algo que parecia uma corrente e que brilhava ainda mais intensamente que as estrelas que cintilavam ao redor.[...] O homem sem rosto se curvou lentamente até mim e segurou o colar diante do meu nariz. [...] A coleira, que agora tinha se transformado num laço, se estreitava contra meu pescoço e comprimia minha traqueia. [...] Agonizante, consciente de morrer em breve, olhei para o vazio nessa escuridão sem Deus, para onde o rosto dele deveria estar . De repente, brilharam dois olhos amarelos fosforescentes. Eram olhos da minha espécie, e choravam."

Francis acorda e ao invés de ficar puto com seu dono, se espreguiça e começa a se lamber, quando Barba Azul aparece para anunciar "mais um presunto", nas palavras dele.

O gato dá uma de Xeroque Holmes e diz: "Trata-se de alguém do sexo masculino, certo? Como os quatro outros cadáveres." Ao que o amigo confirma, abismado, e ele responde com um "ora, foi apenas um palpite." Isso é lógica e dedução básica, não tem nada de especial nessa informação. Tanto que o fato das vítimas serem do sexo masculino acaba sendo irrelevante depois, mas eu já vou chegar lá.

Francis pergunta mais a respeito da vítima, que a propósito se chama Deep Purple e era um gato idoso cuja função era ser o velhinho que grita "saiam do meu gramado" aos jovens baderneiros.

E em seguida temos essa troca de diálogo: 

"Esse idiota era uma verdadeira praga e perturbava a gente toda hora com seus apelos morais."
"E como é que ele se chamava logo Deep Purple?"
"Pois é, seu dono é o oposto total: batizou o velho Deep Purple assim porque ele mesmo se acha um idiota de um Deep Purple. [...] após o encerramento do expediente, coloca a roupa de couro heavy, põe um disco velho maluco do Black Sabbath na vitrola, faz ele mesmo uma tatuagem de caveira na bunda, arrebenta as próprias janelas com um pontapé usando botas de couro com colchetes de elefante, joga latas de cerveja vazias nas cabeças das pessoas e quando se acalma um pouco, aperta um baseado atrás do outro e fuma até perder a consciência."
"E qual a profissão da figura?"
"Funcionário dos correios."

Sério, me desculpe o pessoal que trabalha nos Correios, (que foram fundamentais inclusive pra que este livro chegasse em minhas mãos) mas confesso que eu ri.



Como o pobre Deep morreu numa garagem, em cima da moto de seu dono, os dois atravessam a vizinhança até lá e se deparam com Kong, um persa enorme e Hermann e Hermann, a dupla de pelo-curto orientais mau encarados:



Ah, como chamar essa gracinha de "brutamontes"?

Ah, dane-se! Esse artigo tem mortes e sangue demais, deixa um pouco de fofura aqui...


O clima fica tenso em cima do muro, e após xingamentos, ofensas homofóbicas e ameaças de estupro por parte de Kong, Barba Azul consegue fazer o persa gigante meter o rabo entre as pernas com  os outros dois e sumirem. Por que exatamente eles temeriam um gato manco e sem uma das patas não fica muito bem explicado, mas deve ser porque do contrário eles já teriam transformado o Francis em ração. Enfim...





Ao chegar ao local do assassinato, eles encontram o corpo de Deep Purple em cima da moto. Em seguida, Francis pergunta a Barba Azul se ele sabe se a vítima era castrada, e sim, o mistério envolve várias conversas constrangedoras como essa:

"O que? Purple trepar? [...] Na idade dele muita gente já ficaria feliz em decifrar a palavra "ereção" com a ajuda de óculos e lupa, quanto mais em poder assustar as meninas com a própria."


Barba Azul responde que ele não era castrado, e Francis, por sua vez, duvida que o ferimento na nuca de Deep Purple tenha sido causado por um humano, mas sim que poderia ser uma briga entre rivais na hora de um acasalamento. A partir daí, ele formula três hipóteses:

"a) Alguém tinha algo contra trepadas no geral, ou b)Estava ele próprio no cio e tinha ideias curiosas a respeito de como vencer a concorrência no território ou c) Não queria que uma dama específica fosse comida pelos outros."





Por que se não for uma coisa, será o total oposto dela... Argh, sério? Ok, contando com os assassinatos anteriores, já são cinco vítimas, mas não havia nada que indicasse sexo relacionado ao primeiro crime do livro, apenas o fato de serem todos machos. Ok, você poderia argumentar que, sendo um mistério policial com gatos, um dos principais instintos deles é o de acasalar, mas não me convence por que esses gatos em especial sabem o que é um Citroen, bolsa de valores, Deep Purple, e etc... Como agora você vem me dizer que eles são animais apenas controlados por instinto?

Após esse passeio, Francis se despede de Barba Azul e volta pra casa por outro caminho. Considerando que a vizinhança dele possui um assassino e um estuprador em série, essa é uma atitude muito sensata da parte dele. Ele chega em casa debaixo de raios e trovões e se esconde debaixo de uma cômoda e adormece. E, de novo, ele tem um daqueles sonhos estranhos, que por nossa sorte, ficou fora do filme de animação. Aqui um trecho do que está no livro, apenas pra vocês sentirem o drama:




 "Sonhei que estava de novo naquela garagem horripilante. Só que desta vez Deep Purple não estava morto, nem deitado de costas, mas sim bem vivo e sentado ereto como um ser humano sobre o assento da Harley Davidson. [...] Havia um sorriso sardônico na face daquele velhote zumbi, que gesticulava de maneira selvagem com as patas dianteiras. "Essa aqui é a pinóia do meu território! E eu ainda posso ter uma ereção! Olhe só!" Esticou a pata por sobre o ombro e e tirou o filhote da ferida que esguichava sangue.[...] de repente, jogou para o alto o filhote que tinha acabado de nascer dessa maneira tão repugnante e o arremessou a distância como uma bola de beisebol. O bebê se chocou contra a parede de amianto com um barulho abafado, deixando um grande borrão de sangue e se estatelando sem vida. Purple recomeçou a rir monstruosamente e futucou de novo a ferida , tirando dela um novo bebê, dizendo: "A vida é assim mesmo, o mundo é assim mesmo, meu caro! Se você quer viver mais tempo e ainda ter uma ereção aos noventa e nove anos, basta entregar seu corpo a medicina moderna!"





Enfim, Francis não aguenta muito mais dessa merda do que um leitor large aguentaria ler e acorda, apenas para se ver novamente atraído por um barulho no sótão. Pois é, parece que nem mesmo um pesadelo bizonho desses é capaz de impedir esse protagonista de se arriscar e ele sobe até lá sozinho sem Gustav, mesmo sabendo que a vizinhança deles é tão segura quanto uma boca de fumo.

Por um buraco no telhado ele avista um grupo enorme de gatos reunidos, todos esperando em fila enquanto outro gato manipula um fio para que os outros pulem em cima e sejam eletrocutados... sim, por que essa história já não tinha gatos mortos o suficiente. Ei, espere um pouco, como foi que o dono dele e seu amigo hipster deixaram isso passar? Porra, isso que dá fazer as coisas por conta própria sem ajuda profissional. Imagino a cara de pastel do homem recebendo a conta de luz da casa dele, além do cheiro de gato queimado que aquilo deve gerar. Logo os vizinhos alertariam o centro de zoonoses e descobririam um sótão cheio de gatos mortos e aquela seria a última vez que Gustav ficaria a solta para escrever seus romances femininos duvidosos.

Bem, como não sou eu quem escrevo essa história, Francis apenas percebe que os gatos não morrem exatamente, só ficam meio eletrocutados e em êxtase maluco, enquanto Coringa...







...Hum-hum, Coringa, o gato controlando o sistema elétrico, faz uma pregação em nome de Claudandus, um gato mártir que teria sofrido várias dores antes de morrer sendo elevado a um patamar de divindade:

"Meu Deus, onde é que eu tinha ido parar? Numa assembleia das Testemunhas de Jeová? Me perguntei o que aconteceria se resolvesse adentrar aquele quarto, e me respondi que simplesmente não aconteceria nada, já que preferiria beijar um cachorro a entrar lá. [...] Os choques elétricos faziam com que caíssem atordoados e extenuados no chão, mas alguns malucos entre eles pareciam não estar ainda totalmente satisfeitos e queriam passar de novo pela tortura. [...] "Em nome do Irmão Claudandus!", o pastor exortava suas ovelhas. "Em nome do Irmão Claudandus, que se sacrificou por nós e se transformou num deus! Claudandus, ó santo Claudandus, escuta as nossas lamentações, escuta as nossas vozes, escuta a nossa prece! Aceita o nosso sacrifício!" "

Não sério, o Francis chega a citar as Testemunhas de Jeová, pra você ver como os gatos desse livro parecem saber mais sobre os humanos do que eles mesmos. E para surpresa dele, até mesmo Barba Azul está entre os cultistas, mas antes que Francis possa observar mais, ele acaba descoberto pelo Coringa.







Ah, chega dessas piadas por hoje!




Francis foge com os gatos da seita em seu encalço. Durante a fuga, ele descobre que há um laboratório desativado bem ali ao lado e faz uma piadinha sobre o equipamento antigo e enferrujado ser bom o bastante para ser comprado por um país de terceiro mundo (sério, o humor desse livro oscila muuuito). O metido a detetivão se vê prestes a fazer parte do elenco de Felidae 2- Electric Boogaloo, quando cai em uma janela basculante! Felizmente, ele para dentro de uma casa confortável, onde mora a linda Felicitas, uma russian blue:



Aaaaaaaaaaaaw....

Felicitas mora sozinha com seu dono rico e se aproxima timidamente para checar as intenções dele. Francis se mostra amigável e eles conversam até que ela pergunta se já era dia do lado de fora e Francis se vê surpreso:

"Interrompi o que dizia. Agora estava explicado o triste segredo de seus olhos. Fui até ela e olhei embaraçado para minhas patas. "Você é cega", eu disse.

Ela responde então: "Não sou cega, apenas não posso ver!"



What??!!

Depois ela explica que nasceu cega, no entanto, tem imagens em sua mente, e as descreve:

"Tudo é tão difuso e pouco nítido! Vejo seres humanos, muitos seres humanos reunidos ao meu redor. São tão grandes e tão claros... [...] Falam confusamente e riem alto. Tenho um medo pavoroso, quero minha mãe! [...] De repente, o homem tem algo que brilha na mão e faz um movimento brusco. Eu sinto dor. E adormeço. Mas é um sono assustadoramente profundo, de chumbo, negro, do qual não acordo mais. Na treva do sono ouço vozes de seres humanos. Eles agora estão com raiva, gritam uns com os outros, se culpam mutuamente. Alguma coisa deu errado. Continuo a dormir. Tenho a impressão de passar mil anos dormindo. [...] De repente estou indo para fora com os outros. Sim, há outros, muitos, centenas. Mas não posso mais ver, estou cega. Estou tão triste por não poder ver mais nada! Tudo está deserto e morto. Fico vagando por um momento e me deito em algum canto. Chove e fico molhada. Perdi todas as esperanças e sei que vou morrer. Em seguida as imagens se desfazem em suas cores e contornos, como se tivessem sido mergulhadas em um solvente químico."

Confesso que eu fiquei especialmente tocada por essa passagem. Tem coisas bacanas nesse livro, por maiores que sejam minhas críticas, e vez ou outra eu vi emergir a mensagem de cuidado e respeito que os animais merecem. Por mais que esse seja um livro cheio de mortes de animais, também foi um livro um tanto sensível ao tomar algum tempo para empatizarmos com os animais vítimas desses horrores.




Francis, sendo o detetivão que ele é, fala o óbvio:

"Você não é cega de nascença. Um ser humano fez alguma coisa com você, só depois disso você ficou cega."
"Posso confessar uma coisa?" pude perceber um leve tom irônico em sua voz. "Os seres mais simpáticos que conheço são os seres humanos. Quem mais cuidaria de um bicho cego como eu?"

Em seguida ela fala sobre como os gatos de rua se comportam fora dali e que não se ressente muito de estar presa por sua cegueira. Eis que Francis finalmente a indaga sobre o que ela pode ter escutado da vizinhança e ela diz:

"Você está se referindo aos gritos de morte? [...] Os gritos de morte que ouvi durante as últimas semanas, vinham todos de machos que já tinham lutado com seus rivais e estavam indo se encontrar com quem quer que os tivesse chamado. E enquanto elas uivavam mais alto ainda, alguém se juntou subitamente a eles, alguém que eles pareciam conhecer muito bem e perante quem deviam ter o devido respeito."

Ok, então ela entrega todos esses detalhes sobre o suspeito após ter ouvido vários desses embates, mas apesar de ter escutado todas as conversas, ela não é capaz de citar nenhuma palavra ou nome que pudesse ter sido dito... ok.

Pra mim, esse acaba sendo outro ponto falho da trama. Bons escritores de mistério dão as pistas necessárias para o leitor tentar desvendar o culpado, sem usar de desculpas esfarrapadas para reter informação. Se a pista que o autor retém sem boas explicações poderia revelar todo o mistério em minutos, então ele não escreveu um bom mistério. E se ele precisa reter essa informação, é por que ele não descobriu uma boa forma de colocar a pista sem dar toda a resposta de uma vez.

Francis então compartilha suas suspeitas sobre a seita de Claudandus, mas Felicitas desfaz delas argumentando que são apenas imbecis que se mortificam por um sentimento de abnegação ou talvez por puro tédio. Nisso, um barulho os interrompe e eis que Barba Azul aparece pela janelinha:

"Por que você fugiu? Nós só queríamos conversar", disse por fim, quase pedindo desculpas."

O dono de Felicitas aparece e eles se despedem dela. Francis se aborrece (com razão) por Barba Azul não ter lhe contado sobre a seita antes, ao que o gato explica que não achou esse detalhe importante (porque reunir dezenas de gatos logo acima da casa dele não parecia importante o suficiente) e explica que a seita já existia há alguns anos, mas que não se sabia as circunstâncias do seu surgimento. Segundo ele, o que se sabia é que o Coringa foi o primeiro a difundir "o evangelho de Claudandus", ganhando seguidores ao longo do tempo. Os gases químicos que Francis percebeu emanarem do laboratório não convencem Barba Azul como motivo para um comportamento agressivo, pois ele afirma se sentir "embotado e com a cabeça vazia" toda vez que saía de lá.


"Sei como é, champs"

Pela manhã, Francis e ele fazem as pazes após comerem uma tigela de fígado no apartamento de Gustav, e em agradecimento Barba Azul o leva para conhecer "outro espertalhão" da vizinhança, Pascal, um gato idoso que vive com seu dono numa casa de decoração... peculiar.

"Um chalé em miniatura totalmente reformado e decorado na última moda até os limites do possível [...] A característica mais marcante dessa casa era o vazio. Em cada aposento havia algo que sobressaía, que podia ser um tapete no chão ou mármore branco muito polido. [...] Apenas dois quadros estavam pendurados nas paredes brancas: O primeiro era uma foto enormemente ampliada do genital de uma mulher, o segundo apresentava o correspondente masculino. É, aqui moravam verdadeiros admiradores da arte!"




 Eles avançam pela casa, encontrando dentre outras tralhas decorativas, um quadro gigantesco de Gregor Mendel, que é o tipo de coisa que as pessoas largemente têm em casa... E eles se deparam com Pascal, o gato, sentado diante do computador de seu dono.

"No primeiro momento pensei que ele tivesse adormecido ali. Mas então pude perceber como mexia com a pata dianteira e utilizava o teclado com grande agilidade."



""Sejam bem-vindos, queridos amigos!", nos disse efusivo. "Já estava me perguntando onde é que vocês tinham se metido. Barba Azul me contou..." Percebeu meu olhar admirado e balançou a cabeça, sorrindo: "Ah, vocês me pegaram com a boca na botija, brincando com o computador. Os processos da microeletrônica impuseram a pior das maldições ao mundo: tu jogarás até perecer!""

A propósito, ele é um havana marrom, que é essa raça aqui:




Na adaptação do livro para filme de animação, ele ficou assim:


Really, that's THE BEST  you can do?!

Na verdade, o design de todos os gatos nesse filme se parecem com rascunhos rejeitados de um filme ruim do Don Bluth; Ruim no nível "Um troll no Central Park".





 Pascal então mostra o mapeamento dos assassinatos que ele está fazendo no computador:

"Pascal tocou nos botões de função que se encontravam na parte superior do teclado. A tela escureceu de cima para baixo até ficar totalmente negra. E então surgiu sobre esse fundo negro uma lista com algarismos romanos e no topo havia o título: FELIDAE."

Então ele explica que  esse é o termo científico para a espécie deles, os felídeos, e que seriam as criaturas mais fascinantes e milagrosas da natureza... Bom, os ratos e os cães com certeza discordam, mas o importante é que Pascal tem catalogadas todas as informações sobre os assassinatos e...

Ok, já sabemos quem é o assassino. Vão por mim, e não é porque eu já li o livro e assisti ao filme; desde o começo, quando o caso foi exposto e os potenciais suspeitos apresentados, já sabemos que não foram eles, pois seriam óbvios demais. Agora, o gato sentado na frente de seu computador, praticamente um pet de vilão do James Bond e se manter informado através dos outros gatos como se fosse um Varys do Game of Thrones... isso é mais que óbvio, mesmo eu tendo duvidado no começo por ele ser muito velho e aparentemente estar com câncer de estômago, mas continuemos.





Ele e Francis comentam sobre todas as vítimas serem machos, de várias idades, mas do tipo mais comum de gatos sem raça definida e estarem todos "no cio", e logo depois Pascal comenta que nem todas as vítimas eram machos, pois ele ainda não havia tido tempo para adicionar o nome da sexta vítima.

""Felicitas?" Eu ri histericamente.
Pascal continuou solene o seu trabalho sem deixar transparecer qualquer emoção.
É infelizmente, Felicitas também."" 

Francis pergunta por que ele não contou de uma vez e o velho apenas diz que não queria que o encontro deles ficasse marcado por uma notícia assim.





Ele corre até a casa de Felicitas para ver com seus próprios olhos:

"Parecia uma cena de filme de terror. O nobre vovô estava sentado na cadeira de balanço e chorava copiosamente. Aos seus pés, Felicitas, a cabeça quase totalmente separada do corpo. O assassino havia sido particularmente brutal dessa vez.[...] Os olhos cegos de Felicitas estavam bem abertos, como se mesmo frente a morte não houvesse nada que ela quisesse mais do que poder ver alguma coisa." 





Claro, por que quando se está morrendo, o que mais se quer é ver. Ou talvez ela só estivesse acordada mesmo.

Sério, o filme é tão explícito na violência dos ataques que parece um pré-adolescente de 13 anos tentando ser hardcore. Eu adoro gatos, tive muitos e vi muita coisa ao longo dos anos, mas sinceramente, nenhuma dessas mortes me impactou. Tive um pouco de pena de Felicitas por ser a única vítima com um pouco de desenvolvimento, mesmo assim, é bastante desagradável o modo como tudo isso acaba sendo retratado no filme e no livro.

Enfim, Francis jura vingança sob o cadáver dela, concluindo que, diferente dos outros, ela morreu por ser uma testemunha. E quem é que sabe sobre tudo o que todos fazem pela vizinhança?




Ok, o Coringa era um suspeito até aqui também. Mesmo assim, uma das regras não escritas sobre mistérios é que dificilmente o assassinato investigado é culpa de uma seita, visto que a preferência é sempre pela ação individual com um motivo peculiar. Nem mesmo no filme do Scooby Doo eles deixaram de seguir essa regra: eles preferiram fazer do Scooby Loo o vilão a colocar a culpa na seita satânica do parque! Por que sim! Aprendam, crianças: seitas nunca são culpadas por nada, apenas na vida real!


Depois de todo esse horror, Francis repete o mesmo equívoco da primeira vez e adormece ouvindo música clássica e tem um terceiro pesadelo (que no filme é o segundo por motivos óbvios)...Mesmo assim, esse consegue ser ainda pior que os anteriores, pois ele sonha dentre outras coisas, com um Gregor Mendel DO MAL, marionetando centenas de gatos mortos. Sério, é exatamente isso:





"O que vi me encheu de um horror indescritível. Diante de mim se estendia uma vasta clareira mergulhada na luz, recoberta de cadáveres de companheiros de espécie. Parecia que não só a raça humana tinha chegado ao seu fim com o apocalipse. Montes de cadáveres de espalhavam desordenadamente como sujeira em um depósito de lixo sobre o qual parecia ter caído uma tempestade de sangue.[...] De repente ele surgiu no meio dos corpos sem vida com um estrondo ensurdecedor: cerca de trinta metros de altura, titânico, com olhos brilhando cheios de desgraça por detrás das lentes dos óculos que refletiam a vermelhidão do céu. Suas vestes de pastor esvoaçavam ao vento; os cabelos estavam arrepiados e se emaranhavam em labaredas. [...] Era Gregor Johann Mendel, o homem da pintura na parede que tinha se transformado num monstro."



DEIXEM MENDEL EM PAZ! O cara só queria aprimorar ervilhas!!!

Depois disso, Francis vai caçar ratos no porão e em meio ao seu "lanche", esbarra em um velho livro com letras desbotadas que ele decifra como sendo o diário do professor Julius Preterius. Só tenho duas coisas a dizer sobre isso:

1ª - Como é que o Francis, um gato, sabe ler? Eu sei que num livro onde gatos investigam crimes, isso parece ser o de menos, mas... ainda assim, como?! Seja como for, deve ter sido o mesmo método de ensino da peixinha Dory, do Procurando Nemo.

2ª- O nome do cara é Julius Preterius. Não tinha como ele ter um nome menos de vilão sinistro cientista maluco não?





Ah, Terry, me desculpe, eu não quis dizer isso, você sabe... Ah vai, não faz assim comigo, o seu nome, ele é ótimo... É estranho, mas é ótimo para lutador de MMA ou um gladiador por exemplo...





Ah, por favor, esqueça o que eu disse! Você é o pai do Chris e o melhor pai da ficção depois do Mufasa e é isso o que importa!


Agora sim! Julius feliz, todo mundo feliz!


Continuando, no diário, Francis descobre que o professor Ju...




...eh, professor Preterius enlouqueceu conduzindo uma série de experimentos com o objetivo de criar uma "supercola", porque não é como se esparadrapos, suturas e gaze já fossem o suficiente para conduzir a um processo de cicatrização satisfatório. Bem, pra testar sua "supercola" ele usou gatos e teve resultados amplamente questionáveis, com a fórmula corroendo crânio adentro dos pobres animais.Sendo um cientista a conduzir um experimento científico você poderia imaginar que uma vez tendo esses resultados ele e sua equipe abandonariam o projeto e se dedicariam a uma alternativa mais produtiva, mas eu já disse que ele tem um nome de cientista maluco?

Um gato de rua aparece no laboratório (provavelmente atraído pelos gritos e gemidos de infelicidade e dor extrema vindos de lá) e os cientistas o adotam. Após todos verem que a fórmula é naturalmente um fracasso desde o seu próprio conceito de não ser nem mesmo necessária, a equipe vai aos poucos abandonando o barco e a verba fica reduzida, restando aos dois usarem o pobre gatinho adotado como cobaia. Eis que a cola funciona!Isso os leva a chamar o gato de Claudandus, do latim "aquele que precisa ser fechado". Mas a cola funciona apenas nele, o que é explicado por Claudandus ser um mutante.





O experimento porém, continua sendo falho, pois só funciona em um indivíduo por sorte, basicamente. No laboratório quase desativado sobram Ziebold, que mais tarde se tornaria o dono de Pascal, e o próprio Preterius. Eventualmente o amigo dele também percebe que as coisas estão estranhas e eles recebem um ultimato para sair do laboratório "por bem". À essa altura, Preterius caga pras ordens de autoridades e não recebe uma resposta adequada, visto que ele tem tempo não apenas para continuar fazendo experimentos horríveis em Claudandus e forçá-lo a acasalar com fêmeas na tentativa de gerar indivíduos com o mesmo gene mutante, como também começa a sequestrar animais de rua para atingir seus objetivos.





Enfim, o livro tem todo o sexto capítulo escrito sob a forma desse diário, com uma narrativa em primeira pessoa bastante interessante ao esmiuçar todo o processo do "enlouquecimento" dele, que o leva a capturar e torturar gatos de rua com o objetivo de reproduzir o "milagre de Claudandus" . A parte que mais me marcou nesse capítulo foi quando o cientista fala do afastamento de sua própria família pela sua própria obsessão e pelo excesso de trabalho com que se viu envolvido, algo que o torna surpreendentemente um personagem um pouco mais dimensional e humano apesar de toda a sua monstruosidade. É triste e ao mesmo tempo revoltante ler como ele mutilou e feriu tantos animais. E o diário termina com uma nota sobre Claudandus o encarar como que chamando-o para uma briga (o que deveria ser verdade) e o cientista concordando em abrir a jaula dele.

Terminada a leitura, Francis reflete sobre tudo isso, chegando às óbvias conclusões de que tanto Felicitas quanto Barba Azul eram muito provavelmente apenas filhotes quando foram vítimas dessas terríveis experiências e que por isso não se recordam bem delas, apesar de Barba Azul provavelmente se recordar considerando sua antipatia por "abridores de latas". Em suas especulações sobre a identidade do assassino ele chega a considerar que Preterius pudesse estar ainda vivo e escondido, atacando suas antigas vítimas, o que ele descarta por motivos óbvios.

Por fim, ele é interrompido por Kong, que invade o porão a procura de ratos com sua gangue e aproveita para ameaçar Francis novamente em uma troca de ofensas e ameaças tão monótona e tediosa que eu nem vou me dar ao trabalho de transcrever aqui. Eles correm no meio da chuva pelo jardim e Francis é encurralado num muro e ao pular e caminhar pelo quintal, se depara com a sétima vítima:





"Fiquei paralisado ao perceber aquilo em que quase tinha tropeçado.[...]Era uma balinese branca como a neve com as suas típicas manchas amarronzadas no rosto, rabo, orelhas e patas.[...] entretanto, o mais comovente era sua gravidez avançada. Os contornos de seus pequenos filhotes estavam bem definidos em sua barriga molhada." 







Acontece que a tal gata chamada Solitaire era namorada de Kong, se é que se pode dizer isso de gatos, e o brutamontes se desmancha em lágrimas, compreensivelmente. E novamente, temos uma personagem feminina sendo morta apenas para que um personagem masculino jure vingança sobre seu cadáver. Incrível como até mesmo uma história que se passa quase exclusivamente com animais ainda fica presa a convenções de enredo que não são necessárias realmente. Claro que um ponto do mistério é "o assassino matou não apenas machos, mas também duas fêmeas, inclusive uma que estava prenha", mas fazer com que ela seja a namorada (ou interesse amoroso) de um personagem apenas para assassiná-la depois e dar um motivo pra ele sair "revenge mode" por aí é um clichê muitas vezes executado de forma vazia que apenas reforça o estereótipo da mulher como uma potencial vítima idealizada a ser protegida pelo seu guardião e possuidor, um homem.

Fim do momento reclamações feministas, os três começam a farejar e rastreiam um forasteiro, um gato vira-lata com mistura de persa (?) que foge. Kong segue o gato, disposto a dar a ele uma justiça tipicamente de cidadão do bem, mas o gato sobe numa árvore e após alguma perseguição, desaparece pelo jardim da casa ao lado. Kong e os gêmeos siameses disparam pelo quarteirão esperando pegá-lo enquanto Francis decide permanecer onde está.





Então, o persa misterioso volta... e ele é ainda mais feio que todo o resto dos designs de gato desse filme juntos, o que é muito triste pois os persas mais feios ainda conseguem ser bonitinhos. Bem, Francis corre atrás dele e o segue através de uma catacumba (?) e consegue confrontá-lo para perguntar o que ele fazia na cena do crime. O gato se apresenta como "Jesaja", "o bom guardião dos mortos". Francis percebe que o bicho é imundo e fala com medo e resignação, então logo pergunta a ele se ele é o responsável por todos os esqueletos de gatos que estão ali, ao que o pobre animal apenas responde que não, que os mortos vem até ele através do "Profeta", um ser místico que teria ascendido aos céus. Ele se recorda apenas de perambular sob efeito de químicos e quase morrer de fome até ser resgatado pelo "Padre Coringa". Nossa, é incrível como as referências religiosas desse livro pulam de um lado para o outro sem qualquer critério, pois numa hora os gatos fazem um culto parecido com as infames cerimônias de expulsar demônios. Em outra, tem um gato que se isola como um monge num mosteiro. Ai, ai, por que eu ainda perco meu tempo?

Enfim, de posse dessa pista, Francis conclui que Jesaja não passou de um pobre manipulado por Coringa a fim de se livrar dos corpos que o assassino produzia conduzindo-os para suas catacumbas com uma desculpa religiosa. Então, você pensa, é agora que Francis vai até Coringa e o desmascara, ou melhor, quebra a cara por que o verdadeiro culpado não é ele? Nah, claro que não, porque o livro ainda tem espaço para um trecho com MAIS UM SONHO/PESADELO  do Francis. Ok, esse tipo de sequência não é um problema, existem vários filmes e livros onde sonhos e pesadelos têm um papel importante de expor medos, desejos e inseguranças dos personagens de uma forma muito natural e interessante. O problema é ter uma história de mistério onde o detetive passa mais tempo dormindo e sonhando do que desvendando o mistério!

E depois disso, ele acorda e vai finalmente juntar os gatos para confrontar o Coringa e descobrir a verdade? Nah, que isso. Esse livro é de fato tão bom, que ele precisa ainda de uma sequência onde o próprio Francis avista uma fêmea de alguma raça exótica e sai pra acasalar com ela. Por que sim, por que pular logo para o desfecho, o que esse livro precisa é de gatos trepando:






"Imediatamente ela se espreguiçou desejosa diante dos meus olhos, mexendo as patas dianteiras com nervosismo e gritando. Dei uma volta ao seu redor, cheirei-a, abri a boca com prazer, mostrei os dentes e montei sobre suas costas. Ela logo colocou o rabo para o lado e pôs sua preciosidade à mostra. Segurei sua nuca rápida e firmemente com os dentes para que ela não pudesse mais se mexer e para que se enrijecesse. Ela abaixou a parte superior do corpo e ergueu os quartos traseiros. Era o sinal definitivo! Abracei minha rainha e segui adiante. No êxtase de nossa união pude ver estrelas explodindo e universos se formando diante de minha mente, vi minha amada atravessar o espaço sideral como uma santa envolta em uma coroa de luz e flutuar na minha direção, vi quando nos juntamos para uma dança etérea do prazer, quando geramos bilhões e bilhões de felídeos, que por sua vez povoaram bilhões e bilhões de galáxias, copulando entre si e gerando outros seres da minha espécie, passando adiante a fórmula sagrada, eterna e infinitamente assim, sem nunca desistir, sem fim até nos unificarmos com a força desconhecida que nos criou.Senti que essa junção era diferente de todas as junções que já tinha vivenciado. No momento da ejaculação, ela soltou um grito estridente e explodimos nos separando."

...

...

...

Eu não sei o que dizer. Essa, e aquela cena completamente desconfortável e desnecessária que o Stephen King escreveu em IT, entram num rol de coisas que absolutamente ninguém espera ler em um livro na vida. Quero dizer, quem sou eu pra julgar mas, porra, sexo entre gatos?! Mesmo? As pessoas vão querer ler isso?

...

Pessoas normais vão querer ler isso?

De novo, não estou julgando mas... que diabos eu acabei de ler? Porra, eu mesma já escrevi coisas estúpidas, coisas idiotas, coisas que após um momento de lucidez eu concluí que não precisam vir à luz do dia em um livro. Todos nós temos ideias idiotas, é pra isso que a tecla "delete" serve. Mas como alguém escreveu isso, revisou, levou até seu agente ou editor, eles leram e deram sinal verde pra isso? Como?


"Ah..."




Após acabarem o rala e rola, Francis pergunta de que raça ela é, e a gata reage com ultraje. Afinal, tanta coisa pra se dizer depois de uma transa e o cara sai com uma de eugenista pra cima da moça?

Ele insiste e ela responde: "Minha raça é antiga. Ou melhor dizendo, antiga e nova, diferente! Veja se chega a alguma conclusão a partir disso."

Depois ele pergunta o nome dela, o que seria a coisa certa a se fazer antes de transar com alguém se possível. E ela responde com um "O meu verdadeiro nome não diria nada a você, pois não está em condições de compreender o seu significado."









...

Eu pesquisei no google e o nome dela é Nhozemphtekh; agora sabemos porque ela não disse...

Enfim, Francis volta pra casa, encontra o dono terminando a reforma e o enoja com seu mau-cheiro resquício de suas aventuras no esgoto e catacumbas (sei lá). Curioso saber que a gata não ligou pra isso, mas o importante é que Barba Azul aparece pra comer e Francis o manda ir procurar o Coringa e pressioná-lo a confessar sua culpa pelos assassinatos, usando Kong para ameaçá-lo. Francis conversa com Pascal e após saberem do amigo casca-grossa que Coringa sumiu, eles decidem reunir todos os gatos da vizinhança no mesmo sótão onde ocorriam as cerimônias "chocantes".





Pascal e ele alertam que há um assassino entre eles e que teria sido responsável pela morte de pelo menos 450 gatos ao longo de 14 anos, e que de alguma forma ele está ligado ao laboratório que existia no prédio. Francis fala sobre o culto a Claudandus ter sido criado como uma forma deles lidarem com os traumas do lugar, utilizando a figura do gato que teria morrido na mesa de operações, ao que uma vozinha afirma: "Ele não morreu."


"Ah. E você, quem é?"




Surgida do éter, a gatinha fala que é bisneta de Coringa, que teria lhe dito que Claudandus não morreu e... sério, como é? Olhem, o que vocês acabam de ver é um cat ex machina, ok? Basicamente o autor joga um personagem no meio da história a essa altura apenas para revelar essa informação crucial e assim tentar conseguir um pouco de suspense com a revelação. É.

Nós nunca vimos essa personagem, não vamos nem vê-la de novo depois e não faz a menor diferença. O papel dela é entrar em cena e apresentar informação relevante para o roteiro que os protagonistas deveriam ter descoberto por si mesmos e então ela desaparece. É TOTALMENTE TIRADO DO CU.

Desculpem, eu realmente estou levando isso muito a sério... Ah... falta muito pra terminar?!!

Todos os gatos ficam "Oh", e Claudandus, digo, Pascal, logo fala que se Claudandus está a solta, eles não precisam temer porque o verdadeiro assassino muito provavelmente é o Coringa e... É, parece que a essa altura todo mundo já sabe quem é o culpado, menos o Francis. Ah, o que eu posso dizer, esse  gato mais dorme do que qualquer coisa. Eu devia ter feito o mesmo ao invés de ter concordado em passar o Carnaval resenhando isso.

 Nosso detetive finalmente tem um insight e resolve ir ele mesmo a loja de porcelanas que é onde Coringa mora, e surpresa das surpresas, acaba descobrindo o corpo dele em uma prateleira que Barba Azul não tinha visto direito.





Logo, Francis finalmente junta 1+1, concluindo que Claudandus é o culpado e que está a solta... ele vai até Pascal então e os dois começam a conversar cheios de enigmas e firulas, conforme vão desfiando o mistério, e eu só posso sentir pena de Pascal, porque o gato detetive não dá uma dentro:




Já sei quem é o culpado!


Sério? E quem seria?





Gregor Mendel!



....



Aquelas ervilhas eram muito suspeitas!

Ok, nessa parte ele finalmente conclui que Pascal = Claudandus, mas já era hora, não? Francis vai até a casa dele para confrontá-lo e  temos a cena em que o vilão explica todas as minúcias do seu plano maléfico. Pascal confessa que, não só matou o doutor Preterius quando ele abriu a jaula, mas que persuadiu o mesmo a fazer isso falando com ele. Francis o adverte que um animal falar com um ser humano é algo proibido e, foda-se, viu. Os gatos nesse livro podem ler, sabem identificar celebridades, marcas, carros, todo tipo de coisa humana. Por que diabos faria diferença eles falarem? 

Enfim, depois disso o colega de Preterius, Ziebold, encontrou o gato a beira da morte e ao invés de se aterrorizar com o que o bichano foi capaz de fazer, ele o leva ao veterinário e o adota. Por que é isso que um protetor dos animais faz: não importa se o gato cavou um túnel com os dentes da garganta até os intestinos de um ser humano, ele ainda é apenas um gato. Espero que tenham entendido, vocês que abandonam seus animais a própria sorte. Gunf.

Acontece que o agora renomeado Pascal não estava satisfeito em usar sua caixa de areia e comer em sua tigela, ele queria vingança, então começou a ler os livros de genética de seu dono e a utilizar seu computador nas horas de folga sem que ele suspeitasse. É. E ele desenvolveu um sistema de aprimoramento genético para criar uma "super raça" de gatos, tentando dissuadir os que não se encaixassem nos padrões certos, e matando aqueles que ainda assim quisessem procriar.

Oi?

Então ele criou uma database com todos os gatos da região em seu computador e a qualquer momento em que um macho e uma fêmea geneticamente "inferiores" quisessem procriar, Pascal magicamente aparecia para impedi-los. Se não conseguisse convencê-los, os matava. Incrivelmente, nenhum dos gatos sobreviveu aos ataques dele, nem ninguém saiu por aí falando "eu estava tentando cruzar com uma gatinha e Pascal veio com uns caô moralista pra cima da gente, é mole?", não. Pascal era tão bom nisso que absolutamente ninguém o via realizando essa matança ou tentando convencer alguém a não cruzar. Deus, o que diabos eu estou lendo?!

Com o passar do tempo ele naturalmente envelheceu e começou a procurar alguém que pudesse continuar com sua obra. Vocês sabem, alguém que compactuasse com os "valores" dele... E claro, esse alguém perfeito apareceu na figura do gato que acaba de se mudar pra lá e está horrorizado com os assassinatos ao ponto dele mesmo se meter a investigar. Por que ninguém melhor pra convencer a continuar o plano eugenista louco de extermínio do que o cara que quer parar tudo isso. Argh!!!

Francis o questiona sobre ele ter matado o Coringa, ao que Pascal responde que com o avanço das investigações ele não teve escolha e que o Coringa concordou em se sacrificar pelos planos. Sim, por que o cara era leal o suficiente para morrer, mas não o bastante para calar a boca. Ah, Céus...





Então Pascal fica todo "Os seres humanos são todos maus! Junte-se a mim para juntos dominar-mos o mundo!" e Francis fica todo "Eu nunca vou me juntar com você, você é mal, bla bla bla". Eles inevitavelmente partem pro fight e é terrivelmente anti-climático quando você percebe que Francis é um gato no auge da vida, lutando com o equivalente a um velhinho de 85 anos com câncer no estômago. Nosso herói, pessoal!






Na luta, o monitor cai e pega fogo, queimando tudo ao redor. Pascal toma impulso para pular sobre Francis, mas ele é mais rápido e usando apenas uma garra (como assim, os gatos podem escolher quantas garras deixam à mostra agora, é?) num movimento rápido ele abre a garganta do gato idoso. É, isso está escrito exatamente assim. Pior é saber que no filme, ele abre o abdômen de seu adversário, espalhando as tripas pelo chão. Que final, minha gente.





Francis se arrasta pra fora da casa incendiada, e encontra Barba Azul machucado após ter sido vítima de um ataque do agora morto Pascal. Eles voltam para o apartamento de Gustav e se recuperam, refletindo sobre a perda da inocência de Claudandus. É, o cara definitivamente perdeu alguma coisa.


E o livro termina com Francis desejando um até logo e dizendo: 

"Continuem solucionando enigmas, mesmo se as soluções não valerem a pena. E não deixem de acreditar em um mundo no qual animais e seres humanos possam viver em harmonia, todos juntos, até mesmo as espécies superiores e mais inteligentes do que esta última; os felidae, por exemplo!"

...


...


...









Considerações finais:



Felidae apresenta uma premissa atrativa ao colocar gatos em uma trama policial, uma ideia original e que poderia render um livro muito interessante, explorando as competências que são naturais dos gatos e de grande detetives: seu enorme poder de observação e a curiosidade. Infelizmente, o resultado é muito aquém do esperado quando se lê. Eu não sei se é um problema da tradução do alemão, que é a língua original, mas o texto é muito prolixo e tem um estilo que me pareceu descritivo demais para a agilidade que um enredo assim precisaria. O autor usa a figura de Francis em infindáveis divagações, não para explorar o personagem ou o mistério, mas para enfiar todo tipo de bobagem opinativa pessoal que em nada contribui com o desenvolvimento da história. 

Mesmo assim, esse acaba sendo o menor dos problemas: além de ter seu ritmo bastante prejudicado pelo estilo narrativo, o modo como o mistério em si é apresentado não empolga pelo simples motivo de que Francis faz pouquíssimo no papel detetive, pois a maioria das pistas que ele encontra não foram fruto de sua busca ou habilidades, mas foram revelações na forma de sonhos e/ou na voz de personagens que aparecem apenas uma vez para dar aquele detalhe importante, sem terem tido sequer uma apresentação ou desenvolvimento primário.  As pistas praticamente caem no colo dele sem esforço, resumindo. E o resultado acaba sendo a lista de todos os ingredientes necessários para escrever um anti-mistério.

Como se já não bastasse, o desfecho não é surpreendente e muito menos impactante, pois o plano de Claudandus é falho desde seu conceito: Como poderia um gato só perseguir e atacar todas as centenas de gatos na vizinhança, e especificamente quando estivessem visando um indivíduo específico de sua "criação particular"? Ele instalou chips nas genitálias deles? É uma espécie de "sentido fornicação"? E como, em todo o tempo que levou (uns 14 anos, ao que parece), ninguém, ABSOLUTAMENTE NINGUÉM escapou de um ataque, ou mesmo lutou contra ele? Lembrando que Claudandus/Pascal, além de velho, estava com câncer no estômago e era um sobrevivente de inúmeras torturas e experiências de laboratório. Pensando bem, o Barba Azul também apresenta essa característica, mas a questão não é essa! 

A questão é que por todo esse tempo, ele criou uma linhagem de gatos geneticamente selecionados, num subúrbio de alguma cidade alemã, com o objetivo de se vingar dos setes humanos, matando vários de seus semelhantes gatos no processo...por que ele foi corrompido pela maldade do ser humano, causando um "holocausto eugenista de gatos". Por que ele é como Hitler...


Sério isso? Sério mesmo?!
Gente, isso é ridículo. Não tem o que argumentar. Temas como eugenia e holocausto são muito complicados pra serem usados dessa forma leviana. Muitos interpretaram esse livro como uma alegoria, mas eu sinceramente espero que não tenha sido a intenção do autor, apesar de duvidar muito. O nazismo deixou uma marca na história do povo alemão, sendo um assunto complicado de se falar até hoje por lá. Os alemães precisaram de muito tempo pra lidar com os traumas morais envolvidos e tratam com seriedade qualquer menção ao tema, então pra mim, é bem estranho que eles tenham gostado do modo como esse livro trata a questão assim.  É superficial, desrespeitoso e idiota.






"Maus" sim, é uma alegoria para o Holocausto que utiliza animais antropomórficos para mostrar como diferentes povos agiram nesse período histórico. "A revolução dos bichos" é outra alegoria que utiliza animais de fazenda pra falar sobre a revolução comunista e a União Soviética. Já Felidae é um pretenso mistério que utiliza gatos no cio pra falar de eugenia e vilaniza cientistas como Mendel para passar uma mensagem rasteira sobre moralidade que deixa muito a desejar. Quando alguém usa imagens que aludem a temas que deveriam ser tratados com seriedade sem se comprometer em dar o peso que eles merecem, apenas para passar uma impressão de profundidade é lamentável, pois ajuda a banalizar ainda mais algo que não deveria nunca ser esquecido justamente para nunca mais se repetir.

 



E como se isso não bastasse pra eu achar esse um dos piores livros que eu já li, ainda temos o autor do livro: Akif Pirinçci, o que dizer de você? Eu nunca tinha ouvido falar dele, pesquisei sobre ele exclusivamente para a resenha, e... porra, seria melhor se eu não tivesse pesquisado:






Aos que não entendem muito de inglês ou não estão familiarizados com a crise dos refugiados na Europa, nessa entrevista à tv, Akif fala sobre seu novo livro de não-ficção, "A Alemanha fora de si" (tradução livre minha) e dá suas opiniões "controversas" sobre o assunto. Ele conta que é de origem turca e veio para a Alemanha com dez anos de idade, quando os pais se mudaram em busca de trabalho. Ele diz amar o país e ter se adaptado muito bem a ele, apreciando o conforto que seus pais puderam lhe proporcionar, o que eles não podiam no país de origem por serem muito pobres. A parte controversa da entrevista começa quando ele critica o partido Verde da Alemanha por suas políticas ecológicas que instalam moinhos de energia eólica, poluindo visualmente todo o verde das florestas e dos campos alemães que ele diz apreciar. (WTF?)  Em seguida ele fala sobre como sente saudades da "Alemanha como era há alguns anos atrás, quando ele podia andar e saber que estava num país europeu", criticando a "ideologia" que permite aos muçulmanos entrarem no país e modificarem toda a estrutura de funcionamento dele para atender seus requisitos, linkando a baixa na performance de estudantes nas escolas a maior entrada desses imigrantes, além de aumento de crimes e... é, essas declarações escalaram muito rápido. 

A onda crescente de extremismo e xenofobia ao redor de várias potências globais não é novidade. Com o grande fluxo de imigrantes do Oriente Médio e da África fugindo de conflitos e pobreza em direção à Europa, a tensão social cresceu muito nesses países. Eu não sou com certeza nenhuma especialista em geopolítica e nem pretendo explicar todos os pormenores de algo tão complexo na conclusão de uma resenha, mas o que posso dizer é que nada é tão simples quanto as pessoas de movimentos extremos gostam de fazer parecer. Existem questões que merecerem maior atenção do governos nos países que se dispuseram a receber os refugiados, e o surgimento de tantos movimentos com caráter flagrantemente neo nazista só mostra como controle e a segurança pública precisa existir junto a boa vontade de abrir as portas do país para essas pessoas. E ainda tem a questão das diferenças culturais e religiosas que por si só já são um campo minado a se falar, principalmente para as pessoas razoáveis que defendem a liberdade, respeitando é claro, o direito das pessoas de terem suas próprias crenças. O problema começa, eu diria, quando o direito à crença religiosa começa a se sobrepor a liberdade que as mulheres têm na cultura islâmica.

Eu entendo que existem muitas vertentes do islamismo e nem todas têm o mesmo "fervor" religioso que obriga as mulheres a usarem burcas até para nadar. Infelizmente, esse aspecto acaba representando a maioria dessas vertentes, e é muito difícil saber até que ponto as mulheres inseridas nessas culturas estão felizes com as regras rígidas de vestuário e comportamento que lhes são impostas. Afinal, se elas se rebelam contra esses costumes, as consequências geralmente são muito severas.

Dito isto, é claro que eu sou totalmente contra generalizar qualquer grupo e tomá-lo como bode expiatório político. Mas eu também acho que nem toda crítica ao islã é necessariamente uma ofensa xenofóbica e movida a preconceito (apesar de muitas serem). O que eu vejo é que existe um extremismo religioso ainda muito forte nessa religião específica, que ainda existe em menor grau em algumas vertentes do cristianismo, tanto católico como protestante. Dizer isso não é preconceito. É uma crítica. Agora, dizer que "A Europa está se tornando um depósito de lixo muçulmano" (fonte) ao meu ver já ultrapassou a barreira da crítica e da opinião e foi direto para discurso de ódio. Além desse episódio, o autor também teria ofendido membros do partido Verde alemão dentre várias outras pessoas ligadas a ideologias políticas de que ele é contra. fonte

Num discurso em 19 de Outubro de 2015, em Dresden para o Pegida, um movimento de extrema direita, quando confrontado com vaias de grupos contrários, Akif teria dito a uma multidão de simpatizantes: "É uma pena que os campos de concentração estejam desativados”fonte  
Depois ele foi recebido com palmas pela plateia.





Felizmente, a frase repercutiu muito mal fora dali e em 24 horas editoras e até mesmo a Amazon da Alemanha desinscreveram seus livros de suas listas e encerraram contratos e livrarias relevantes seguiram o mesmo caminho. O autor e seus defensores alegaram "censura" após essas medidas, que curiosamente acaba sendo o que a maioria deles alega quando tem de confrontar consequências para as merdas que dizem.

Outra vez, é preciso lembrar o que eu tinha dito no artigo sobre o John Green: autores não são seus livros. Mesmo assim, é triste ver que o autor tenha no decorrer dos anos se tornado muito mais parecido com o vilão de seu livro do que com a imagem que talvez ele projetasse de si mesmo através do gato Francis. Bom, nunca saberemos.

Sobre Felidae, Patricia Highsmith disse "Adoraria que meu gato pudesse ler este livro".  Parafraseando a frase dela, eu digo que estou muito feliz que meu gato não seja capaz de ler, do contrário eu tenho certeza de que ele estaria agora com um punhado de papel rasgado debaixo de suas garras, com um olhar de pura revolta e desgosto.





É isto, espero que tenham se divertido na medida do possível e logo retornarei para resenhar coisas mais do meu agrado. Cuidem bem dos seus bichinhos e lembrem-se do conselho do tio Pernalonga:





Inté!

Resenha de mangá: O marido do meu irmão

  Eu vinha escrevendo essa resenha desde agosto, mas só agora em outubro que eu consegui atualizar o blog... Pra vocês verem. Não sei se foi...